Com matéria-prima cara, biodiesel é inviável até no Brasil
Um estudo da AgraFNP, divisão do grupo Informano Brasil, faz uma avaliação sobre a inviabilidade da produção de Biodiesel com a alta nos preços das matérias-primas disponíveis para a sua produção.
De acordo com a consultoria, o custo de produção atual do biodiesel obtido a partir dos óleos disponíveis no país supera o preço do diesel mineral, e também é maior do que o preço médio de venda do biocombustível alcançado nos leilões do governo (1,809 real por litro).
Mesmo no último leilão da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), realizado em novembro, o preço final do leilão (1,857 real por litro), que ficou acima da média dos anteriores, fechou cotado abaixo dos custos de produção.
"Em 2005, os preços da soja eram altamente viáveis para produzir biodiesel a 1,80 real (por litro). Mas os preços do óleo subiram com o boom da agroenergia, devido aos planos de biocombustíveis dos Estados Unidos. E agora se tem preços superaquecidos dos óleos", afirmou José Vicente Ferraz, analista da AgraFNP, a jornalistas nesta segunda-feira.
A soja, por exemplo, está sendo negociada no maior valor em 34 anos na bolsa de Chicago, o que puxa o valor do óleo.
Segundo o estudo, o custo de produção de biodiesel a partir do preço de mercado do óleo de soja, o mais utilizado no Brasil, é de 2,59 reais/litro (base Paraná) e de 2,42 reais por litro (base sul de Mato Grosso).
Em 2007, mais de 80 por cento do biodiesel fabricado no Brasil teve a soja como matéria-prima, e o cenário deve permanecer praticamente o mesmo para 2008.
"E o pior é que não se acredita que os preços dos grãos voltem aos patamares anteriores. Podem até cair, mas não nos níveis anteriores", acrescentou Ferraz, referindo-se ao ano de 2005, quando foi realizado o primeiro leilão.
"O grande problema é que houve uma explosão (de preços) dos óleos vegetais), isso inviabiliza a coisa."
De outro lado, destacou o analista, o mercado de biodiesel está pressionado por uma elevada oferta do produto, decorrente do grande número de novos empreendimentos, lançados quando o produto se mostrava viável.
"Os preços nos leilões indicam que 1,80 real é o valor que o mercado está disposto a pagar. Os produtores... estão tendo prejuízos, pois o mercado está superofertado, houve uma quantidade enorme de plantas, isso resultou em uma capacidade instalada de duas vezes e meia a necessidade para o B2 (diesel com 2 por cento de diesel)", afirmou.
A partir de janeiro de 2008 passa a ser obrigatória no Brasil a adição de 2 por cento de biodiesel no diesel, o que exigirá a produção de 840 milhões de litros.
Ferraz lembrou ainda que os efeitos dos preços baixos podem ser vistos no volume de entregas menor do que o total já comercializado nos leilões.
ALTERNATIVAS
Segundo ele, por causa do preço inviável, as usinas estão trabalhando "com um limite mínimo de sua capacidade".
"Estão esperando que os preços dos óleos recuem, e querem ver se o Brasil consegue abrir mercado internacional para o biodiesel, pois o Brasil é o mais competitivo do mundo para o biodiesel."
Questões tributárias, entretanto, favorecem a exportação da matéria-prima, ou da soja em grão, em detrimento do produto processado.
Outro fator que pode, em algum momento, elevar os preços de comercialização no leilão, além de eventuais exportações, é a possível redução da oferta. "Um equilíbrio entre oferta e demanda implica que várias empresas não entrem em operação e que algumas saiam do mercado."
Entretanto, acrescentou o analista, uma "saída estrutural" seria o setor buscar matérias-primas não-utilizáveis para alimentação humana e culturas que tenham uma maior rendimento.
Uma opção seria a utilização do pinhão-manso, a única matéria-prima, segundo o estudo da AgraFNP, cujo custo de produção de biodiesel é inferior (1,21 real por litro) ao valor negociado nos leilões.
No entanto, contra o pinhão-manso ainda pesam problemas de escala de produção. Além disso, embora altamente produtiva, ainda faltam informações agronômicas sobre essa cultura.
No curto prazo o biodiesel brasileiro, ressaltou a consultoria, poderia se apoiar na produção de semente de girassol, com os produtores plantando o produto, de maior rendimento industrial que a soja, no inverno.
O óleo de dendê, ou de palma, foi citado como altamente viável em substituição à soja, pelo seu alto rendimento, mas atualmente se mostra inviável pelo preço elevado do óleo. Além disso, a palmeira demora sete anos para produzir, o que dificulta investimentos.
Reuters/Brasil Online
Por Roberto Samora
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