quarta-feira, 16 de julho de 2008

Agricultores fazem escolha para o fornecimento de materias-primas para o Biodiesel

As orientações do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), são as de viabilizar a produção da agricultura familiar, mas as matérias-primas para a industrialização do biocombustível proveniente da agricultura familiar, não estão sendo usadas para essa finalidade.

Mesmo com as expansões das oleaginosas - em especial a mamona e o girassol que cresceram 40% - mais de 90% do biodiesel brasileiro segue sendo feito a base de soja em razão da alta rentabilidade desses produtos. "Para o agricultor familiar é ótimo, ele está vivendo seu melhor momento, com empresas de uso tradicional da mamona e as usinas brigando na sua porta para adquirir o produto", disse Arnoldo Campos, coordenador do Programa Nacional de Biodiesel.

No entanto, Campos afirma que as indústrias ainda não usam esses produtos na fabricação do biodiesel, dando a eles outros destinos mais vantajosos comercialmente. "No momento não se está convertendo (as matérias-primas) em biodiesel e a escala de produção ainda não atingiu o patamar adequado. A gente pensou que a ascensão da utilização dessas matérias-primas seria mais rápida", admite Campos.

A alta das oleaginosas tem comprometido o sucesso do Programa de Biodiesel e levado a Brasil Ecodiesel, empresa-símbolo desse projeto, a uma situação de grande vulnerabilidade.

O valor de mercado da companhia caiu de R$ 1,156 bilhão para R$ 385 milhões nos últimos 12 meses e o mercado já fala numa possível aquisição por parte da Petrobras. Ainda que tenha apresentado uma alta de 2,30% ontem, os papéis da empresa já desvalorizaram 55,7% em 2008, mais que todo o ano passado quando registrou queda de 41,6%. "Só em julho as ações caíram 25% até a última sexta-feira", disse Fausto Gouveia, analista da Win que é homebroker da Alpes Corretora. Para Gouveia, comparada a outras empresas de capital aberto que atuam na área de energia alternativa, como a Cosan e a São Martinho, os papéis da Brasil Ecodiesel são os de menor potencial para enfrentar a concorrência. "Acho que a saída é ela compor uma empresa maior, ou sendo comprada pela Petrobras, ou incorporada por outra petrolífera na qual ela diversifique a gama de produtos", avalia.

O coordenador do Programa de Biodiesel afirmou que embora o governo acompanhe a situação da companhia, não há pacote de ajuda para nenhuma empresa de biodiesel. "Não cabe ao governo recuperar nenhuma empresa", disse. Campos. Afirmou, ainda, que hoje há muitas empresas com capacidade para atender a demanda e que não acha que os problemas da Ecodiesel irão impactar o setor como um todo.

A maior empresa do setor de biodiesel, que no ano passado foi responsável por 52,6% de toda a produção brasileira, foi acusada pela Petrobras de não cumprir contratos de entrega. A Ecodiesel, por sua vez, entrou com uma medida judicial contra a estatal alegando que a empresa não teria ido buscar o biodiesel adquirido em leilão. Na semana passada, a empresa enviou um comunicado ao mercado no qual informa que a medida judicial proposta contra a Petrobras foi realizada em caráter pontual e preventivo e informou que possui, em vigor, diversos outros contratos para fornecimento de biodiesel com a Petrobras e com Refinaria Alberto Pasqualini (REFAP S.A.) para serem entregues até setembro de 2008. Sem a entrega do produto contratado da Ecodiesel, os estoques estratégicos do governo poderão ficar comprometidos. No primeiro semestre parte desses estoques tiveram que ser usados para atender a Região Nordeste e o Mato Grosso.

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