quarta-feira, 2 de julho de 2008

Verdades e mentiras em torno dos biocombustíveis

Em meio ao grande volume de atenção que os biocombustíveis têm recebido da mídia, é difícil distinguir a percepção e a realidade.

Geralmente feitos de milho, cana-de-açúcar, soja e outros produtos agrícolas, os biocombustíveis para automóveis têm sido aclamados como uma panacéia que vai impedir a mudança do clima global, reduzir a dependência em relação aos combustíveis fósseis, assegurar a segurança energética e turbinar as economias agrárias.

Todavia, os biocombustíveis também sofrem denúncias dos críticos que afirmam que eles causarão mais danos ao meio ambiente do que benefícios e que não serão economicamente sustentáveis sem uma proteção governamental.

Para determinar quem está certo, falamos com dezenas de especialistas em organizações governamentais, corporativas, acadêmicas e sem fins lucrativos e revimos os estudos sobre o crescimento e a viabilidade do mercado de biocombustíveis. Baseados nesta pesquisa, exploramos a verdade das hipóteses predominantes a respeito tanto da promessa dos biocombustíveis quanto do seu impacto nos mercados e no meio ambiente.

Percepção: Substituir o petróleo por biocombustíveis vai reduzir substancialmente as emissões de gases causadores do efeito estufa. Realidade: Pelo menos no curto prazo, os biocombustíveis oferecem benefícios mínimos em relação a esses gases.

À primeira vista, os biocombustíveis parecem deixar um rastro de carbono muito menor do que o petróleo porque as plantações voltadas à produção de energia (como todas as plantações) extraem carbono da atmosfera. Na verdade, estudos como o relatório "Biocombustíveis para o Transporte" de 2004 feito pela Agência Internacional de Energia indicam que a economia feita pelos biocombustíveis em relação aos gases do efeito estufa durante o seu ciclo de vida, varia de 20% com o etanol de milho, a 80% ou mais com o etanol da cana-de-açúcar ou etanol celulósico.

Contudo, a economia durante o ciclo de vida não leva em consideração o impacto da terra para agricultura que era, ou também se reverteria em pastagem ou floresta. Desmatar para converter a floresta ou a pastagem em plantações voltadas para a produção de energia resulta em um substancial depósito de dióxido de carbono () na atmosfera. Conseqüentemente, olhando para além no futuro, a esperança ambiental em relação aos biocombustíveis não é uma completa quimera.

Percepção: Os biocombustíveis não são economicamente viáveis como um substituto do petróleo. Realidade: Os biocombustíveis oferecem uma alternativa competitiva ao petróleo.

Embora os custos equilibrados relativos às diferentes tecnologias para a fabricação dos biocombustíveis variem significativamente, no Brasil o etanol da cana-de-açúcar já é comercialmente viável. Hoje, mais de 85% dos carros vendidos no Brasil apresentam motores flex, e o etanol da cana fornece uma porção significativa do pool de combustíveis para veículos com base em seu mérito econômico.

Graças ao grande número de veículos flex, os consumidores podem optar pelo combustível que for mais barato, o que, em última análise, varia com base nos preços relativos do petróleo e do açúcar.
Globalmente, o etanol de milho ainda é muito mais caro que o petróleo e vai continuar sendo até que os preços do petróleo subam mais ou menos 20%.

O etanol celulósico, embora ainda esteja no estágio inicial de desenvolvimento, provavelmente vá se igualar ao petróleo quando aquele estiver em cerca de US$ 55 por barril sem incentivos do governo - cerca de metade do preço do petróleo agora.

Talvez o maior endosso aos biocombustíveis como uma alternativa economicamente viável ao petróleo tenha vindo da própria Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Abdalla El-Badri, secretário geral da Opep, mencionou em junho de 2007 que o consórcio estava considerando cortar investimentos em uma nova produção de petróleo, em resposta a movimentações por parte dos países desenvolvidos de criar e usar mais biocombustíveis.

Percepção: Os mercados globais de energia são tão vastos que os biocombustíveis não podem esperar alterar o equilíbrio do fornecimento e da demanda por petróleo. Realidade: Se o fornecimento agrícola se expandir a taxas históricas, os biocombustíveis podem dar uma contribuição significativa ao pool de combustíveis para transportes, resultando em um super fornecimento de petróleo.

Embora os biocombustíveis sejam a melhor e mais econômica esperança por uma alternativa ao petróleo, a produção de biocombustível ainda representa menos de 1% da demanda global total por combustível. Todavia, se as melhorias agrícolas continuarem rápidas, os biocombustíveis podem finalmente se igualar ou superar as exportações atuais da Opep sem comprometer o fornecimento mundial de alimentos.

Com raras exceções, na última metade do século, avanços na reprodução de plantas, estudos do solo e uso de fertilizantes, gerenciamento da água, controle da ervas daninhas e de pestes e desenvolvimento da infra-estrutura têm aumentado a produção das plantações e a produtividade agrícola. A agricultura também produz mais alimentos usando menos trabalho, capital, químicos e terras.

Até 2030, estimamos que as produções das plantações vão aumentar cerca de 55% e que os preços das lavouras voltadas à produção de alimentos terão caído a aproximadamente metade dos níveis de 2005. A essa época, se as previsões em relação aos preços do petróleo feitas pela Agência Internacional de Energia estiverem corretas, esperamos que a produção de biocombustíveis se equilibre de maneira econômica entre 40 e 50 milhões de barris de petróleo por dia, ou cerca de 40% da necessidade global total. Se o suprimento agrícola aumentasse em metade dessa taxa, os volumes de biocombustível cairiam a mais ou menos metade desse nível.

Percepção: As plantações direcionadas aos biocombustíveis vão ocupar o lugar das lavouras destinadas à produção de alimentos, fazendo os preços dos alimentos subirem e o consumo de alimentos cair no mundo em desenvolvimento. Realidade: Se a produção das plantações e a produtividade agrícola melhorarem a taxas históricas, os preços futuros dos alimentos não vão precisar ser mais altos do que são hoje.

Os críticos mantêm que ao longo do tempo a produção de biocombustíveis vai quase certamente ultrapassar a das lavouras destinadas aos alimentos, resultando em uma maior desnutrição em partes mais pobres do mundo, em particular. Esses argumentos são persuasivos, mas os biocombustíveis não podem ser responsabilizados pela aflição dos países em desenvolvimento em relação aos alimentos. Os fazendeiros nesses mercados já estão em desvantagem quando se trata de acessar as práticas agrícolas mais recentes e a informação sobre as melhorias na produção. Além disso, as políticas governamentais, a falta de infra-estrutura, a instabilidade política e importações mais baratas feitas dos Estados Unidos e da Europa deprimem mais as produções das plantações nessas áreas, fazendo com que os consumidores globais percam até 30% de sua produção agrícola potencial hoje.

Substituir o apetite por petróleo pelo gosto por biocombustíveis sem dúvida resultaria no consumo de recursos agrícolas substanciais. Entretanto, há uma terra não-irrigada adicional no mundo disponível para a produção agrícola, de acordo com a FAO (agência da ONU para alimentos e agricultura) e outras autoridades globais.

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