quinta-feira, 24 de julho de 2008

"O biodiesel não vai dar certo"

Engenheiro por formação e pecuarista por profissão, Pedro de Camargo Neto é um dos maiores estudiosos da questão agrícola. Ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, ele se notabilizou como crítico contumaz da política governamental para o setor. "O Brasil é soja, carne e etanol e deveria usar sua força nessas áreas para se impor nas mesas de negociação", dispara. Segundo ele, esse foi o principal erro dos representantes do País na Rodada Doha, de comércio mundial. Nessa entrevista à DINHEIRO, o presidente da Abipecs, que reúne os criadores e exportadores de carne suína, também ataca o programa de biodiesel e diz que a burocracia prejudica o desenvolvimento da suinocultura brasileira.

Destacamos apenas as partes referentes ao biodiesel, caso queira ler a íntegra da matéria entre em Itoé Dinheiro


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DINHEIRO - Fala-se muito que a produção de etanol pode causar fome no planeta. O sr. acha que essa argumentação tem por objetivo ferir de morte o programa energético brasileiro?

CAMARGO NETO - A alta dos preços agrícolas surpreendeu muita gente. Esse fenômeno deve-se à combinação de quebra de safras e aumento do consumo. O programa de biocombustível brasileiro foi colocado nessa polêmica de forma equivocada. O uso da cana-de-açúcar já se consagrou como uma alternativa viável e os avanços tecnológicos permitem produzir cada vez mais sem ter de ampliar a área plantada.

DINHEIRO - Mas por que, então, fomos tão atacados?

CAMARGO NETO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu um erro ao atrelar o programa brasileiro aos Estados Unidos, como forma de abrir o mercado mundial de etanol. Ocorre que o projeto americano usa o milho, que tem uma eficiência energética muito inferior à da cana. Estamos apanhando por não termos vendido para o mundo as nossas vantagens comparativas. Mas o episódio serviu de lição e felizmente as autoridades brasileiras estão conseguindo reverter os prejuízos.

DINHEIRO - E qual o impacto da escassez de alimentos no caso do programa de biodiesel?

CAMARGO NETO - Acho que o impacto será pequeno pois esse projeto já nasceu morto. Usar a soja para produzir combustível equivale a cometer o mesmo equívoco dos americanos em relação ao milho. O óleo de mamona, apresentado como opção, é tão caro que ele acabará servindo de insumo para materiais nobres, como lubrificantes. O biodiesel é um programa furado.



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