sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Seria despropósito substituir a cana pelo milho

Duas grandes polêmicas rondam a questão do uso do etanol. Uma delas veio à tona com as declarações de Fidel Castro sobre o risco que a plantação de cana pode representar para a produção de alimentos, e sobre o uso do milho na produção do etanol.

Engenho colonial: modelo deixou raízes no Brasil

Haroldo Lima, presidente da ANP, explica que hoje há duas opções para a produção do etanol: a cana e o milho. “Nossa produção de milho equivale a 1/3 da americana. Não temos condições de concorrer neste terreno e nem temos essa pretensão até porque temos a cana que para a produção de álcool, do ponto de vista do balanço energético, é muitas vezes melhor que o do milho”.

Segundo a ANP, o balanço energético do milho é de 1,2, o que significa que, no processo de produção do etanol de milho, tem-se 20% a mais de energia do que aquela que é consumida. Com a cana, esse índice atinge 8, ou seja, na produção de etanol via cana produz-se 700% de energia a mais do que a consumida no processo produtivo.

“O próprio Fidel Castro, em um de seus artigos, observou que a produção de milho brasileiro em 2005 foi de 34,6 milhões de toneladas e ele mesmo diz que foram integralmente consumidas como alimento”, alerta Lima.

“E pretendemos que assim continue sendo. Seria um despropósito substituir a cana pelo milho porque temos um produto muito melhor”.

Também desagrada a setores da esquerda e dos movimentos sociais a grande concentração de terras em posse poucos proprietários. O modelo é uma herança daquele usado no período colonial, tanto no que diz respeito aos latifúndios quanto à superexploração da mão de obra. “A produção do etanol no Brasil ainda está muito ligada à forma colonial de se produzir açúcar, vinculada às plantations, que forneciam para os engenhos na base do trabalho escravo”, disse Lima.

Plantation é uma designação do sistema de produção agrícola utilizado na colonização dos países latinoamericanos e baseado em três pilares fundamentais: monocultura de exportação, latifúndio e trabalho escravo.

O modelo perdurou até o século 19, mas ainda hoje sua influência pode ser notada na formatação de nossa agricultura. “Ainda hoje existem grandes canaviais fornecendo para as usinas. As plantations viraram canaviais e os engenhos viraram usinas. A relação de trabalho se modernizou, não é mais escravocrata, é assalariada,
mas sobrevivem resíduos e manifestações de atraso onde ainda há trabalho análogo ao escravo”, explica o presidente da ANP. Para ele, a solução para esse problema está não no combate ao etanol, mas ao atraso dessas relações. “Devemos lutar pela modernização das relações de trabalho. E essas relações de trabalho tendem a se modernizar com o avanço do etanol, mais do que se o etanol ficasse como um produto de mercado limitado”.

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