sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Expedito Parente* fala sobre o Potencial do biodiesel

“Produção de biodiesel pode pôr fim à miséria”Nordeste brasileiro é uma região semi-árida, de difícil convivência. E nessa região a motivação do biodiesel é o combate à miséria. Tem que se resolver o problema da fome. A miséria no Nordeste pode ser combatida ofertando-se ocupação e renda no campo. E as culturas que poderão realmente ser importantes para a região deverão ser as culturas xerófilas, que podem ser cultivadas em regime de baixa pluviosidade.

Entre as culturas energéticas mais conhecidas, destacam-se a mamona e o pinhão manso. Então, o Nordeste no qual o Ceará se insere, poderá ser um produtor importante de biodiesel. Poderá resolver seus problemas sociais e até ser auto-suficiente em biodiesel.

No entanto jamais terá um potencial de produção, sejamos realistas, como a região amazônica, dentro de uma configuração de floresta energética plantada de forma equilibrada.

O Brasil é um país de dimensões continentais com plenas vocações para a biomassa. E vocações diversificadas. O Programa Brasileiro de Biocombustíveis tende a ser um programa regionalizado. Cada região tem suas motivações para a produção de biodiesel e suas vocações agrícolas. Vocações de matérias-primas.

No Norte do Brasil, as vocações incidem sobre as culturas permanentes, especialmente as palmeiras, que têm um ciclo de vida produtiva de 50 anos.

E algumas dessas palmeiras têm uma produtividade muito grande. O dendê, por exemplo, chega a produzir 5 mil quilos - até supera essa marca - de óleo por hectare/ano. Existem outras espécies nativas na Amazônia que são potencialmente produtoras de óleos e consequentemente de biodiesel. Talvez até em níveis superiores ao do dendê, se domesticadas. A região amazônica tem disponível florestas que foram desmatadas, que estão em degradação, em condições de produzir biodiesel para abastecer toda a Europa. E a calha do rio Amazonas é a estrada natural para o escoamento. Não existe no mundo um lugar que tenha um potencial tão grande quanto a região amazônica, nessa área que foi desflorestada onde pode ser implantada uma floresta energética. Então esse deverá ser o futuro celeiro da produção de biodiesel no mundo. E nessa região se inserem os estados de maior produção do País. O Amazonas, o Pará e os estados circunvizinhos.

Já em outras regiões do Brasil, como o Sul, o Centro-Sul e o Centro-Oeste, existem áreas, em alguns estados, que são extremamente importantes na produção de biodiesel, no entanto com culturas anuais. Eu citaria a soja, o girassol, o amendoim e outras culturas anuais.

Nessas regiões, a vocação são essas culturas trabalhadas de forma mecanizada e existem áreas extremamente produtivas inclusive com produtividades bem maiores que as que poderiam ser obtidas no Nordeste semi-árido.

O Ceará como integrante do Nordeste, será um produtor de biodiesel exatamente na medida da solução de seu problema social. Mas temos que ser realistas. Nós jamais poderemos nos comparar, em termos de produtividade, com o celeiro mundial que é a Amazônia e que tem maiores condições potenciais que o Nordeste. O Ceará poderá ser sim, um produtor de biodiesel na medida certa de suas motivações, com a inclusão social como solução para o problema da miséria e sua auto-suficiência em biodiesel. Essa visão realista sugere que culturas alimentícias como o feijão, a mandioca, o milho e o arroz, sejam também incentivadas para a formação de uma cesta agrícola para as necessidades da população.

Certa vez, perguntado sobre a potencialidade do Ceará na produção de biodiesel, defendi a proposta de que o estado deverá dimensionar a sua produção agrícola para fins energéticos, na dimensão de suas necessidades internas e na eliminação da miséria no campo.

Não obstante, não devemos esquecer a importância das culturas tradicionais de subsistência.

* Engenheiro químico, detentor da primeira patente mundial de biodiesel e presidente da Tecbio - Tecnologias Bioenergéticas Ltda.

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