sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Brasil, potência do biocombustível


Um país com um território de 851 milhões de hectares, dos quais apenas 6,5 milhões estão ocupados pela cana de açúcar, mas que já figura entre os maiores produtores mundiais, pode se orgulhar de ter o título de potência dos biocombustíveis. Num momento em que a mundo se volta para a questão do aquecimento global e da substituição do petróleo, o Brasil chega na frente em diversas frentes de geração de energia.

Conforme dados do Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento (MAPA), aproximadamente 45% da matriz energética do Brasil é de fonte renovável. Deste total, a cana entra com 14%. No âmbito internacional, já é responsável por quase 40% do total, ou seja, 15 bilhões de litros de álcool dos 40 bilhões produzidos mundialmente. A produção brasileira deixa o país numa situação confortável, mas, segundo Haroldo Lima, presidente da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, “não devemos ter uma postura estática diante desta posição favorável”.

O uso de outros recursos energéticos, como o gás natural e a energia nuclear, ainda é pequeno no Brasil. “Nestes quesitos, ainda somos lanterninhas”, brinca Lima. A própria ANP mostra que, enquanto o consumo de gás natural no mundo é de 20,9% e nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) chega a 22%, por aqui o uso é de apenas 9,3%. Com a fonte nuclear, não é muito diferente. Na média mundial, o consumo é de 6,4%, na OCDE, 10,7% e no Brasil, só 1,2%.

Contrapondo-se aos que recusam o uso da energia nuclear, Lima esclarece que esta “é hoje uma das mais limpas, seguras e acessíveis que existem. Estamos passando pela ‘renascença’ da fonte nuclear”. Hoje, a tendência mundial aponta para o maior aproveitamento do gás natural. E se fortalece a esperança de que os biocombustíveis,
entre eles o etanol, venham a ser uma rica fonte de energia para a humanidade.

Como qualquer programa que envolva de um lado grandes cifras e setores poderosos e, do outro lado, trabalhadores e movimentos sociais, a produção de cana desperta discussões acaloradas. Além da questão da superexploração da mão-de-obra dos canavieiros, um tema que vem despertando muitas divergências é a expansão do plantio de cana.

A cana de açúcar é a terceira maior atividade agrícola brasileira no que diz respeito à produção e ao valor bruto produzido, logo atrás das primeiras colocadas, a soja e o milho. O Brasil consegue atingir um alto índice de produção canavieira utilizando um espaço relativamente pequeno do território nacional, apesar de ocupar 22 dos 27 estados. A safra 2006/2007 foi de 424,4 milhões de toneladas, dos quais 49% foram usadas para a obtenção de álcool. O estado de São Paulo responde por 60% do total produzido. Apenas a região Centro- Sul concentra 85% da produção nacional. Nas últimas dez safras, a produção de cana aumentou 40%, o álcool 16% e o açúcar, 105%.

E o potencial de expansão é animador. De olho nessa perspectivas, o governo federal lançou em 2005 o Plano Nacional da Agroenergia, para expandir a produção de biocombustíveis no Brasil de forma planejada e sustentável. Mais de 10% dos 61milhões de hectares usados em culturas anuais e permanentes são ocupados pela cana, que abrange 6,5 milhões de hectares. E há ainda 90 milhões de hectares em áreas férteis e virgens da fronteira agrícola. Isso permite, segundo Alexandre Betinardi Strapasson, coordenador-geral de Açúcar e Álcool do MAPA, uma expansão segura para a produção do etanol, e derruba o argumento de que o Brasil corre o risco de se tornar um grande canavial.

No entanto, é importante que haja uma política de zoneamento para determinar as áreas que podem ser usadas para o plantio, evitando assim o avanço sobre áreas de preservação ambiental e a concentração da monocultura em determinadas regiões. Nas terras paulistas, por exemplo, a expansão canavieira gera preocupação por parte de especialistas do MAPA pelo “excesso de monocultura intensiva”, fato também observado na região da Zona da Mata Nordestina, sobretudo em Pernambuco, Alagoas e Paraíba. “Temos que trabalhar de maneira a evitar essa concentração, seja com financiamento direcionado, ou com estímulos via tributos. Mas independentemente dessas políticas, é importante que a legislação ambiental seja de fato implementada”, diz Strapasson. Ele lembra também que já está prestes a ter início o processo de zoneamento encabeçado pelo ministério. Dentro de alguns meses, um mapeamento irá subsidiar os técnicos na determinação das áreas que poderão ser usadas para o plantio da cana.

De cara, Haroldo Lima adianta que não há risco, hoje, de se avançar pela Amazônia adentro com o plantio da cana. Strapasson concorda e, na revista Política Agrícola, do MAPA, explica que “as variedades de cana atuais não são adaptadas às condições de clima amazônico” pois, em função do alto índice de chuvas, “a cana-deaçúcar cresce em demasia, mas acumula pouca sacarose em seu colmo”. Vale lembrar, conforme ressaltou Strapasson, que o etanol é uma das fontes de energia com menor impacto ambiental e que, bem utilizada, pode ser um importante condutor de desenvolvimento. “Nossa intenção é acelerar o andamento dos trabalhos conjuntos entre os ministérios para encontrarmos soluções que venham a trazer benefício a todos e o menor impacto possível aos elos da cadeia, sejam eles sociais ou ambientais”, finalizou.

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