Disparada dos preços da soja faz estatal interromper fabricação do novo tipo de diesel, que é 10% vegetal
A alta do preço do óleo de soja levou a Petrobrás a suspender a produção do H-Bio, um novo tipo de diesel apresentado com grande destaque pela estatal, em maio do ano passado, como uma evolução na tecnologia de produção de derivados de petróleo. O produto, de menor impacto ao meio ambiente, leva óleos vegetais em sua mistura e, segundo a empresa, não vale a pena, neste momento, vendê-lo ao mesmo preço do diesel derivado de petróleo.
As altas cotações dos óleos vegetais são motivo de preocupação também para as distribuidoras de combustíveis, que começam a negociar contratos de fornecimento de biodiesel para o ano que vem. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea), a cotação do óleo de soja bateu recorde na Bolsa de Chicago em julho, atingindo os US$ 832,26 por tonelada.
Em São Paulo, o produto fechou o mês com um preço médio de R$ 1.703,36 por tonelada, valor 36,2% superior ao registrado em julho do ano passado. Pesquisadores da entidade apontam como causa o aquecimento do mercado interno, que vem reduzindo os estoques em mãos dos produtores.
'Hoje não compensa produzir o H-Bio', afirmou, na quarta-feira, o diretor de abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. A empresa começou a produzir o combustível este ano, com a adição de óleos vegetais ao processo de refino do diesel, que formou um produto híbrido, 10% vegetal e 90% derivado de petróleo. Apesar do cenário atual, a companhia tem como meta produzir 425 milhões de litros de H-Bio em 2008, volume que deve saltar para 1,6 bilhão de litros em 2012, após investimentos de US$ 60 milhões, previstos no planejamento estratégico divulgado no início do mês.
Executivos do setor de combustíveis dizem que um outro problema começa a surgir com a disparada do preço do óleo de soja: o risco de que empresas vencedoras dos leilões de biodiesel da Agência Nacional do Petróleo (ANP) não entreguem os produtos. 'Tem gente que ganhou cotas em leilões no ano passado e deixou para comprar os insumos agora', explica uma fonte, que acredita que algumas empresas deixarão de cumprir os contratos.
Na época do primeiro leilão, em novembro de 2005, o óleo de soja em São Paulo custava R$ 1,1 mil por tonelada. O preço de venda do biodiesel ficou em cerca de R$ 1,80 por litro. De lá para cá, o insumo cresceu mais de 50%, mas o preço de venda será o mesmo. A Petrobrás foi a única compradora dos leilões e se comprometeu a passar o produto às distribuidoras pelo mesmo preço do diesel de petróleo, que hoje custa, nas refinarias (sem ICMS), R$ 1,362 por litro.
Nos leilões, produtores de biodiesel se comprometeram a entregar um total de 840 milhões de litros, volume suficiente para garantir, já este ano, a mistura B2 em todo o mercado, caso os contratos sejam cumpridos. Grande parte das distribuidoras de combustíveis, porém, ainda não tem estrutura para movimentar biodiesel em todas as suas bases de tancagem.
Há grande preocupação com o risco de fraudes na venda do produto, que passa a ser obrigatório no início do ano que vem. O biodiesel é uma mistura formada por 20% de diesel vegetal com 80% de diesel derivado do petróleo, batizada de B2. Para executivos do setor, há grandes chances de empresas fraudadoras não adicionarem o diesel vegetal, mais caro, ao produto vendido nas bombas. A preços de hoje, a fraude garantiria um ganho de 25% na margem de lucro, calculam executivos.
Por Nicola Pamplona
Fonte: Boletim Power Energéticas/ O Estado de S.Paulo
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