segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Biodiesel de Girassol

A necessidade de estimular pequenos e médios produtores rurais a cultivarem plantas com concentrado teor de óleo vegetal tem levado os técnicos da Secretaria da Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural de Quixadá a pesquisarem alternativas de adaptação ao solo e clima sertanejo. Essas experiências preliminares resultaram no contraste da vegetação típica com uma espécie de oleaginosa que decora jardins por todo o mundo, o girassol. Confiantes nos cálculos dos profissionais do campo, os produtores acreditam que, em poucos anos, milhares de hectares poderão transformar a paisagem do Sertão Central num exótico jardim rural.
Os técnicos da Secretaria de Agricultura explicam que implantaram unidades demonstrativas em 27 comunidades rurais. Realizaram estudos, ainda em fase de conclusão, mas já constataram que no último período chuvoso, dentre o grupo de oleaginosas adequadas ao cultivo no semi-árido, embora pouco conhecido na região, o girassol mostrou-se tolerante aos períodos secos.
Também perceberam a viabilidade de consórcio da planta com a apicultura, chegando a produção de 20 a 30kg de mel/colméia de excelente qualidade, ampliando o rendimento dessa cultura em 30%. Além dessas vantagens, o vegetal pode ser armazenado para os períodos de estiagem, sob a forma de silagem.
Apesar do baixo índice pluviométrico e da irregularidade temporal das chuvas registrado na última quadra chuvosa (março - junho) na região, cerca de 28% abaixo da média histórica — segundo dados do Ipece chega a 838mm/ano — a produção de girassol foi considerada razoável. Em algumas áreas, onde ocorreu adubação orgânica, chegou a mais de 900kg/ha de grãos. São vantagens consideráveis, que, aliadas à beleza ornamental de sua floração, capaz de encantar qualquer um, está atraindo dezenas de pequenos e médios produtores a confiarem nessa alternativa apresentada pela Secretaria de Agricultura do Município de Quixadá.
Os agricultores José de Queiroz Ferreira e Josafá Rodrigues da Silva confessam que ficaram surpresos com os resultados. Na próxima estação chuvosa, os dois afirmam que pretendem triplicar o cultivo da oleaginosa. A planta tem sua origem numa extensa faixa de terra que segue do Peru ao México, entre os continentes americanos do Sul e do Norte.
Eles afirmam que se os resultados agradarem novamente ampliarão ainda mais suas áreas de cultivo do girassol. O primeiro mora no Cipó dos Anjos; o segundo, na Várzea da Onça. Aproximadamente 25km separam as duas comunidades. Acreditam que “do jeito que as coisas vão”, em breve um extenso campo de girassóis unirá as duas localidades.
A meta para a próxima quadra chuvosa no município é chegar a 5 mil hectares cultivados com o vegetal que, como a mamona e o pinhão-manso, também é considerado como espécie ideal para extração do principal insumo destinado à produção do bioenergético líquido. Muitos agricultores familiares apostam que “se a chuva ajudar” as estimativas dos técnicos serão facilmente superadas. Justificam que o girassol não é tóxico como a mamona e agrada mais que o pinhão-manso, servindo de alimento para as animais e as abelhas.Esperam também que os incentivos de crédito assegurados pelos governos federal, estadual e municipal sejam cumpridos. O programa governamental do biodiesel prevê a inclusão social do pequeno produtor no sertão.

MERCADO
Com o início das obras de construção da usina de biodiesel em Quixadá, no começo do ano, representantes da Petrobras estiveram neste município e asseguram a compra de toda a produção de grãos das oleaginosas cultivadas na região. O preço pelo quilo do produto foi estipulado em R$ 0,56.
Em seguida foi a vez do governo do Estado expor sua parcela de incentivos, R$ 0,14 de complemento ao preço mínimo estipulado pelo governo federal, chegando a R$ 0,70/kg e R$ 150, por cada hectare cultivado com mamona, consorciada com feijão ou milho.
A Prefeitura de Quixadá também aderiu à política de incentivos. Recentemente, na realização de um seminário socioambiental que contou com a participação de centenas de agricultores, o prefeito Ilário Marques anunciou mais uma vantagem para os que investirem na cultura de oleaginosas em seu município. Cada produtor receberá cinco horas de trator para gradagem da terra. O suficiente para preparar os três hectares que receberão subsídios econômicos do governo estadual por cada um deles que for cultivado.
Percebendo a necessidade de despertar o interesse de produtores dos outros municípios da região na empreitada bioenergética, a Associação dos Municípios do Sertão Central (Amusc) articula uma excursão ao canteiro de obras da unidade produtora da Petrobras. Com a iniciativa, o presidente da Amusc e prefeito de Madalena, Wilson de Pinho, pretende levar dezenas de produtores à unidade de produção e superar o clima de desconfiança que ainda persiste na região. Com a visita, quem ainda resiste à alternativa econômica rural poderá observar que o projeto é real e viável para todos.

Quem nasce e vive no sertão está acostumado a enfrentar desafios. Encontrar alternativas para superar as dificuldades no campo é a nossa tarefa. Associar os costumes de nossa gente às políticas econômicas e ecológicas do nosso País, ao mesmo tempo assegurando-lhes o desenvolvimento social, se tornou uma interessante meta. Essas condições estão surgindo com a implantação da unidade de biocombustíveis da Petrobras em nosso município e os resultados alcançados nos nossos experimentos. O girassol surgiu como uma das três possibilidades para produção do energético vegetal. Alcançou resultados extraordinários. Ainda é cedo para avaliarmos o tamanho desse potencial alternativo consorciado com os interesses de nossos produtores e da natureza, mas nordestino é assim mesmo, faz festa para qualquer notícia boa que surja. Com os resultados alcançados e um bom inverno, a “Terra dos monólitos” também se transformará na “Terra dos girassóis”.
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