terça-feira, 11 de setembro de 2007

Bioenergia pode chegar a 15% da matriz energetica brasileira

O potencial de geração de bioeletricidade nas usinas produtoras de açúcar e álcool do País pode representar em 2020 até 15% da matriz energética brasileira, ante os atuais 3% de participação.

A previsão é da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que requereu, junto ao presidente Lula, na semana passada, melhor remuneração pela energia proveniente da biomassa da cana-de-açúcar.

"O setor precisa de políticas que incentivem aos empresários - que não são tradicionalmente produtores de energia - a investir no negócio e aproveitar o potencial das usinas", afirma o consultor da Unica na área de bioeletricidade, Onório Kitayama.

No último leilão de energia, o preço pago pela bioeletricidade proveniente da cana foi de R$ 142 por megawatt/hora.

O valor desestimula os investimentos das empresas, como a Crystalsev, que representa cerca de 8% da produção nacional de cana, e produz 320 MW de energia a partir da biomassa da cana. Desse total, 150 MW são comercializados.

Mas a capacidade total do grupo é de produzir 1 mil MW. "Para que a co-geração alcance esse nível, são necessários pesados investimentos e para isso precisamos de preços remuneradores para cobrir os custos", afirma Celso Zanatto, gerente de comercialização de energia da Crystalsev.

Segundo Zanatto, se o preço pago fosse em torno de R$ 220 por megawatt, seria possível investir no processo de co-geração a partir da palha da cana, que permitiria dobrar o volume de energia gerado.

Hoje menos de 50% das usinas vendem excedente para a rede de distribuição.

A luta dos empresários por melhores preços para a bioeletricidade conta com apoio das bancadas ruralistas, cooperativistas e, principalmente, ambientalista no Congresso, segundo o deputado federal Antonio Carlos Mendes Thame.

"O uso da palha da cana para produção de energia garantirá um incremento brutal na produção nacional e permitirá o fim das queimadas nos canaviais", afirma Thame.

Segundo o deputado, o governo precisa investir em fontes limpas de geração de energia e não discutir a produção de fontes residuais, como a nuclear.

Estimativas da Unica apontam que a capacidade de produção de energia proveniente da biomassa da cana na safra 2012/13 seja equivalente à potência da Usina Hidroelétrica de Itaipu, ou seja, superior a 9,5 mil MW. Mas o cálculo leva em conta o uso da palha com o bagaço da cana.

Mas o potencial pode ser ainda maior com a otimização dos processos industriais, como tem ocorrido nas usinas, cuja média de geração era de 40 MW e hoje gira em torno de 150 MW.

Custos

O fator preço - considerado principal incentivo para a produção de energia de biomassa - é um entrave, principalmente para as usinas já existentes, segundo Carlos Roberto Silvestrin, vice-presidente executivo da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen/SP).

"Os investimentos destinados à construção de novas usinas já prevêem os gastos com a área de co-geração, portanto, fica mais fácil de absorver os custos", afirma Silvestrin.

O custo do investimento em uma caldeira de alta pressão - que viabiliza a produção excedente de energia - é de entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões.

Já um equipamento com capacidade inferior - suficiente para o autoconsumo da usina - custa menos da metade.

Com isso, segundo levantamento da Cogen, 95% das novas usinas que serão instaladas no País nos próximos cinco anos estão sendo construídas com caldeiras de alta pressão.

"O foco de atuação das novas usinas é a produção de etanol e bioeletricidade", afirma.

Dessa forma, a participação da venda do excedente de energia no faturamento das usinas pode saltar dos atuais 5% para até 20%, prevê Kitayama.

No caso de usinas já existentes, os investimentos precisam ser absorvidos pela receita obtida com a venda de energia, o que no momento não acontece, segundo o representante da Unica.

Kitayama informa que, além da troca de caldeiras, as usinas também precisam investir em outros equipamentos, cujos preços estão inflacionados.

Há cinco anos, segundo o consultor, uma caldeira de alta pressão custava cerca de R$ 8 milhões, e hoje chega a R$ 50 milhões, e ainda há demora na entrega por conta da demanda na indústria de base.

Convênio

Um convênio para o lançamento do Programa Paulista de Co-Geração de Energia será assinado hoje entre a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Governo do Estado.

A programação inclui o workshop "Geração de Eletricidade a partir da Biomassa e Biogás", que discutirá os estudos desenvolvidos na área pela Comissão Especial de Bioenergia do Estado de São Paulo, coordenada pelo físico José Goldemberg.


05/09/2007
Fonte: DCI - Comércio, Indústria e Serviços

Agência UDOP de Notícias

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