terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ceará usa vocação pesqueira e faz biodiesel de víscera de peixe

A Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), órgão ligado à administração pública estadual, pesquisa o uso do óleo extraído da víscera da tilápia para fabricação de biodiesel.

O estado produz por ano 18 mil toneladas de peixe (mais de 95% de tilápia) e a perspectiva em dois ou três anos é de aumentar essa produção para 30 mil toneladas anuais. Teoricamente, este volume seria suficiente para 1,95 milhão de litros de biodiesel. Em todo o Brasil, a produção de peixe foi de 1 milhão de toneladas, segundo dados da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), de 2005.

Segundo Jackson de Queiroz, técnico-químico do laboratório de Referência em Biocombustíveis da Nutec, o combustível já foi produzido em laboratório e apresentou desempenho técnico semelhantes ao do biodiesel feito com outras matérias-primas, como o sebo bovino. "Desenvolvemos e caracterizamos esse óleo de víscera e conseguimos produzir o biodiesel dentro dos mesmos processos do sebo bovino, por exemplo. A qualidade foi excelente", resume. Do peixe, 10% é víscera. Desta, 60% é gordura e, disto, 80% pode ser transformada em biodiesel.

A víscera é considerada hoje um dejeto da atividade pesqueira do Ceará, portanto, sem valor comercial, o que desperta a curiosidade de grandes empresas produtoras de biodiesel. "Até então, não foi encontrada uma aplicação. É poluidora tanto se jogada em rios ou no solo. Já há interesse de uma grande empresa estatal em usar essa tecnologia", acrescenta Queiroz.

Outra matéria-prima inusitada pesquisa pela Nutec para produção de biodiesel é a moringa. Trata-se de uma oleaginosa de origem indiana, mas presente de forma abundante no Semi-Árido do Nordeste. O teor de óleo da moringa é de 30% a 35%, de acordo com Queiroz, bem acima dos 20% do óleo de soja.

A moringa é estudada desde setembro do ano passado pela Nutec e, já em novembro a fundação conseguiu produzir o biodiesel a partir dessa oleaginosa. Queiroz garante que as características fisico-químicas são de boa separação de glicerina e viscosidade mais adequada que a do óleo de mamona. O processo de produção também é o mesmo de outras oleaginosas. "Tanto a moringa, como o óleo de víscera de peixe, precisam de estudos de campo. Ainda não temos no laboratório uma usina de produção contínua de biodiesel, que permita a fabricação do produto sem interrupções nas diversas fases de produção".

A oleaginosa ainda não é desenvolvida de forma comercial. Assim, não há estudos sobre sua viabilidade agronômica. "É uma planta de bom desempenho em clima quente e, no Nordeste, é usada no tratamento de água", explica.

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