terça-feira, 28 de outubro de 2008
Governo do RN vai reformular programa de produção de biodiesel
A transformação do Rio Grande do no Norte em um produtor de matéria-prima para biodiesel será alvo de uma nova tentativa por parte do Governo Estadual e da Petrobras. Ontem, foi anunciada uma reformulação no Programa Estadual de Agroenergia (Proage), cujo alvo principal será garantir o insumo para que o estado possa requerer à Petrobras a ampliação das fábricas do óleo. A meta é ousada: ter 50 mil hectares de girassol plantados, 12 vezes mais do que existe hoje. Para chegar a esse volume, além da agricultura familiar, pequenos e médios produtores também participarão do grupo que vai fornecer o material à Petrobras.
De acordo com o secretário estadual de Energia e Assuntos Internacionais, Jean-Paul Prates, o objetivo é que haja uma produção anual média de 60 mil toneladas de sementes em 2009 e 2010. Um volume muito maior do que o atualmente usado nas duas plantas de fabricação de biodiesel mantidas pela Petrobras no RN, ambas experimentais. Hoje apenas 30% do consumido por elas vêm de solo potiguar. Jean-Paul Prates explicou que, até que o estado tenha uma fábrica do combustível - para usar toda essa matéria-prima e produzir em escala industrial – a mercadoria será enviada ao Ceará, Bahia e Minas Gerais, onde a companhia já tem usinas comerciais do óleo.
“O próximo passo é transformar essas duas plantas experimentais em uma industrial”, disse Jean-Paul. Isso porque a garantia da matéria-prima é um argumento fundamental que o RN precisa ter para convencer a Petrobras – o que vem sendo tentado há três sem sucesso. Embora ainda fale em negociação nos próximos três meses, o secretário diz que está “tudo certo” para que a Petrobras faça esse investimento.
Funcionamento
A força de trabalho para o plantio de girassol será acrescida de produtores individuais. “Não se consegue esse resultado só com agricultura familiar”, disse Jean-Paul, assegurando que a nova estruturação não prejudicará os agricultores familiares. O cultivo do girassol – por enquanto será só ele, mas estuda-se usar coco - se dará em seis chamados “pólos de biodiesel”: Agreste, Mato Grande, Assu, Apodi, Alto Oeste e Mossoró. A Petrobras vai assegurar a compra da produção por cinco anos, provendo as sementes, enquanto o governo estadual fornece a assistência técnica. Os investimentos para o andamento do projeto ainda não estão definidos, mas estimados em R$ 10 milhões, com recursos dos cofres públicos federais, estaduais e da Petrobras.
Segundo o coordenador da Petrobras Bioenergia para o Nordeste, Ulisses Soares, o novo modelo potiguar surgiu de projetos pilotos nas regiões de Apodi e Mato Grande e, dando certo, será replicado nos demais estados do Nordeste.
Produção de oleaginosas teve tentativas frustradas
Esta é a terceira tentativa de dar corpo à produção de oleaginosas do RN para a fabricação de biodiesel. A primeira foi com a mamona, que, segundo IBGE, teve queda de produção de 83% em 2007, movimento decadente desde 2004. Depois, veio o girassol, que só rendeu 20% do esperado até agora.
Os motivos do insucesso das tentativas anteriores são diversos. No caso da mamona - cuja expectativa de analistas é que praticamente desapareça do RN - os produtores estão desestimulados, devido a problemas na comercialização da oleaginosa a partir de 2004, quando a produção começou visando o consumo da Petrobras. Além da baixa produtividade devido à pouca qualidade técnica do plantio, houve problemas de documentação com as cooperativas que venderiam a mamona e depois o preço pago não foi o esperado.
Coordenador da Petrobras Bioenergia para o Nordeste, Ulisses Soares conta que, com o girassol, cujo cultivo começou no fim de 2006, as bases dos obstáculos também variaram. Um deles foi a falta de tradição no cultivo do girassol. Houve até ansiedade dos produtores, que colhiam antes da data em que a Petrobras recolhia a produção de todos os agricultores.
Segundo uma fontes ligadas à área, houve ainda problemas técnicos internos entre a Emparn e a Petrobras. Ainda de acordo com essas fontes, a desconfiança em relação à plantação de matéria-prima para biodiesel foi outro motivo da pouca participação no caso do girassol. Deste modo, um dos desafios do novo modelo do programa é conquistar a confiança do produtor.
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