Rio de Janeiro, 15 out (EFE).- O diretor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), Jacques Diouf, pediu que, devido ao impacto nos preços dos alimentos, as políticas sobre biocombustíveis sejam revistas, exceto no caso do Brasil, pioneiro nesta fonte energética.
Segundo o relatório anual da FAO publicado nove dias antes do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, os biocombustíveis contribuem para a alta do preço dos alimentos, sem que melhore a segurança energética dos países e nem se conheça se o seu uso traz benefícios para o meio ambiente.
Assim, a polêmica sobre os combustíveis extraídos de vegetais como uma alternativa barata e limpa aos derivados do petróleo continua viva, apesar da crise financeira mundial e da divisão de opiniões nos países da América Latina.
Há 30 anos, o Brasil usa maciçamente o etanol da cana-de-açúcar para movimentar sua frota de veículos comerciais. Além disso, o país conta com uma indústria da agroenergia com forte peso econômico.
Este ano, o Brasil produzirá 25,5 bilhões de litros de álcool combustível e exportará outros 4,2 bilhões. Mas, em oito anos, a previsão é que a demanda interna cresça 150%.
Tanto o Governo quanto empresários negam que o uso maciço da cana-de-açúcar para produzir etanol influa nos preços dos alimentos.
Assim, o país prevê expandir sua produção no médio prazo com investimentos de aproximadamente US$ 24 bilhões.
No entanto, para Diouf, não há dúvidas de que os biocombustíveis gerados a partir de sementes de cereais "contribuíram para a recente alta dos preços dos alimentos", que, conseqüentemente, fez o número dos que passam fome no mundo aumentar de 848 milhões para 923 milhões de pessoas.
A Colômbia, segundo produtor de biocombustíveis da América Latina, com 365 milhões de litros de etanol de cana por ano e 73 milhões de litros de biodiesel, é o mais entusiata da produção de "combustíveis verdes".
No sudoeste do país, há cinco usinas de etanol de cana, além de vários projetos para a produção de álcool a partir de beterraba, batata e mandioca.
No caso do México, a crise dos alimentos atingiu a população quando os Estados Unidos começaram a usar milho para produzir etanol, o que encareceu uma série de alimentos, das carnes e ovos às típicas tortilhas.
Talvez por isso, a produção de biocombustíveis no país seja pequena e o Governo, que é contra colocar "em risco a segurança e a soberania alimentar", proíbe o uso de qualquer tipo de grão de consumo humano ou animal para produzi-los.
Por outro lado, o Peru apostou forte na produção de biocombustíveis, embora ainda lhe faltem campos para cultivar 200 mil hectares de canola, matéria-prima do biodiesel, ou os cerca de 100 mil hectares necessários para atender à demanda nacional por etanol.
Na Argentina, que em 2007 exportou quase 320 mil toneladas de biodiesel, a maior parte para os EUA, a Secretaria de Agricultura tem um programa que estuda o cultivo para fins energéticos de pinhão e coco em áreas não ocupadas pela produção agrícola habitual.
Sem comprometer o fornecimento de comida, o país produz outras oleaginosas destinadas ao biodiesel, como a colza e o cártamo, embora as principais sejam alimentos como a soja e o milho.
Na região, o ex-presidente cubano Fidel Castro é a principal "voz" contra os biocombustíveis, cuja produção, segundo ele, "causará um aumento na demanda, uma alta colossal dos preços destas matérias-primas alimentícias e uma crise humanitária de conseqüências trágicas".
No entanto, Cuba não está fora da corrida pelos biocombustíveis e iniciou com a Venezuela um programa para a extração de álcool da cana-de-açúcar.
Em fevereiro de 2007, ambos os países oficializaram um acordo para instalar 11 usinas de etanol e desenvolver a produção de cana com esses fins na Venezuela, país rico em petróleo.
Outro contrário aos biocombustíveis é o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que acha "um crime" produzir etanol derivado do milho, pois isso atenta contra a alimentação de seus compatriotas.
Porém, uma empresa nicaragüense exporta o produto para a Europa.
Na Bolívia, o Governo se opõe ao uso de produtos agrícolas na produção de biocombustíveis, pois vê estes como um risco à segurança alimentar.
Uma das estratégias do Brasil em relação aos biocombustíveis é fomentar um mercado internacional para que o etanol seja comercializado como uma commodity. Para isso, o Governo procura acordos com países com disponibilidade de terras, água e mercados.
Até as pequenas economias da América Central estão em seus planos, porque têm acordos de livre-comércio com os EUA, o que permitiria ao etanol brasileiro burlar as altos tarifas americanas.
Enquanto isso, na Costa Rica começou este ano o programa de produção de biocombustíveis, e, em 2009, começará o uso de etanol e biodiesel nos automóveis.
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