quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Biodiesel: Uso da Glicerina

Tecnologia desenvolvida em Minas Gerais usa a sobra de uma substânica gerada no processo de fabricação do etanol para conter poeira produzida no transporte do minério de ferro

Belo Horizonte — Com aplicações variadas, entre as quais cobrir vagões de trem e caminhões que transportam minério de ferro, um produto tem chamado a atenção no poderoso mercado de mineração. Trata-se de um líquido feito a partir da glicerina impura descartada do biodiesel, que é despejado nos vagões carregados. Em contato com a água, o produto cria uma fina camada sobre o minério. “Assim, ele evita que o material particulado durante a armazenagem e o transporte se espalhe e cause um outro problema ambiental, a poeira”, explica Rochel Lopes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos pesquisadores à frente de projetos de tecnologia limpa.

O supressor de poeira já gerou duas patentes para Minas Gerais, uma da UFMG e a outra da Verti. Como Rochel Lopes destaca, o produto também minimiza um contrassenso presente na cadeia de biodiesel. É que, embora seja uma das tecnologias verdes mais usadas no Brasil, a produção do biodiesel gera, inevitavelmente, o rejeito da glicerina. Para cada 100 litros de óleo, são extraídos 10 litros de glicerina, normalmente descartados. Como o aumento da produção desse tipo de combustível é uma das metas estratégicas para o Brasil — e, portanto, a produção tende a aumentar —, a quantidade de rejeitos deve subir. Surge, assim, um outro problema ambiental: o que fazer com a glicerina que sobra do biodiesel?

De acordo com Euler Santos, diretor executivo da Verti, o uso dos supressores de poeira é comum entre as mineradoras. Atualmente, porém, as soluções usadas no país são importadas da China. Segundo ele, o desenvolvimento industrial dos supressores em território nacional pode gerar uma economia de até 50% no valor final. “É um produto verde, feito de matéria-prima renovável; tem potencial para ser mais barato e dá destino final e sustentável para um problema estratégico do Brasil, que é o biodiesel”, diz. O uso da glicerina para a produção de supressores de poeira garantiu à Verti, em 2009, um prêmio nacional entregue pela Associação Brasileira da Indústria Química.

Referência internacional como estado minerador, com o crescimento das chamadas tecnologias verdes, Minas Gerais quer trocar definitivamente a má fama do passado, de extrator poluente, para se transformar em potência em relação à pesquisa e ao uso de tecnologias limpas. Entre 30 de agosto e 1º de setembro, a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (Sectes), em parceria com o Centro Tecnológico de Minas Gerais (Cetec), a Federação das Indústrias de Minas Gerais e o Centro Universitário Una, realizará o I Workshop Internacional em Tecnologias Limpas. Em outubro, será a vez de o tema energias limpas ganhar destaque durante a Feira de Inovação Tecnológica, a Inovatec.


“Minas Gerais quer ser um estado com vocação para as tecnologias verdes. Temos tido várias reuniões com a Secretaria, a Fundação Dom Cabral, a Fapemig e outras instituições. A ideia é pensar o estado estrategicamente, para que ele seja uma potência nesta área”, conta Rochel Lopes.

No campo

Além do uso da glicerina na fabricação dos supressores de poeira, o rejeito descartado depois da produção de biodiesel pode ser usado na agricultura. Uma nova pesquisa desenvolvida pela Verti, em fase inicial de aplicação pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, testa o uso da substância para a produção de encapsulantes de fertilizantes. “Os micro e os macronutrientes ficam encapsulados e são liberados de maneira gradual, à medida que a cápsula se degrada”, detalha Euler Santos. Segundo ele, os encapsulantes de fertilizantes existem no mercado internacional, mas, devido ao alto custo, ainda não são usados em larga escala pelos agricultores brasileiros.

Produção limpa

O chuveiro que esquenta com a luz solar ou o carro abastecido com etanol são alguns exemplos da mudança constante que vem ocorrendo na indústria devido a tecnologias que buscam poluir menos o meio ambiente. “Quando usamos o termo ‘tecnologias limpas’, nos referimos a qualquer tipo de técnica que, no fim das contas, terá um efeito benéfico para o meio ambiente, seja no sentido de gerar menos perdas ou no de transformar substâncias poluentes”, define o doutor em química e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Rochel Lopes.

Fonte:

Carolina Braga

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 17/12/07

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola!!
Faço un doutorado en agroenergia e gostaria de falar com vc.
Obrigado!!

taysai@gmail.com

Unknown disse...

E possível fazer biodisel com etanol?