O fechamento, embora temporário, das usinas da Brasil Ecodiesel de Crateús, no Ceará, e de Floriano, no Piauí, não deve ser visto como desestímulo ao arrojado programa de geração desse combustível do século XXI. A interrupção temporária das indústrias, na versão de seus dirigentes, pode ser encarada como acidente de percurso, diante de um desafio novo, cercado por indefinições de matérias-primas, extração do óleo e seu aproveitamento pelo mercado consumidor. O fato é que a empresa não obteve contratos nos leilões da Agência Nacional de Petróleo.
O início de suas operações coincidiu com a crise financeira internacional, provocando o corte das fontes de crédito externo e impondo maior seletividade nos empréstimos bancários. Pesou e muito a diminuta produção de mamona para extração do óleo adicionado ao diesel no abastecimento da frota nacional de veículos pesados.
A ciência brasileira abriu nova fonte energética - o biodiesel - capaz de promover, especialmente no Nordeste brasileiro, a transformação do perfil de sua agricultura conservadora, sem capitais, explorada em sua quase totalidade pelo cultivo de gêneros de subsistência na contramão das condições ambientais.
De outra parte, o semi-árido, em meio a todas essas desvantagens, é o espaço ideal para o plantio de oleaginosas potencialmente ricas em óleos essenciais, como demonstram as suas lavouras xerófilas. O programa de biodiesel do governo federal tem o propósito de promover a inclusão da agricultura familiar numa escala de maior rentabilidade pelo cultivo, dentre outras oleginosas, da mamona e do pinhão manso para suprir as unidades extratoras do novo combustível. Diante de tais vantagens, o Ceará se antecipou à revolução silenciosa na agricultura, dispondo de capacidade instalada para atingir a produção de até 177 milhões de litros de biodiesel a cada ano. Há, contudo, resistência cultural, oferecida pelos homens do campo em relação às oleaginosas. Mesmo vendo os efeitos produtivos de quem já se lançou no cultivo da mamona.
O governo estadual mantém ativa uma política de reversão deste quadro de resistência, por intermédio da oferta de assistência técnica e distribuição de sementes selecionadas, subsidiando, também, o hectare ocupado com mamona com R$ 200,00 e garantindo a aquisição da safra. Mesmo assim, a produção exigirá algum tempo para atender à demanda das usinas. A falta de matéria-prima desmatela qualquer empreendimento industrial como o de Crateús.
Um projeto dessa natureza exige certo tempo para maturação, ajustes naturais no crescimento e muito trabalho de convencimento dos agricultores desiludidos com ações similares, especialmente em relação à cultura algodoeira. Mesmo assim, em 2007, o Ceará produziu mais de 14 mil toneladas de mamona, esperando, este ano, uma produção superior a 20 mil toneladas.
A experiência do biodiesel consorciado, em curso no semi-árido, desperta interesse em investidores estrangeiros, atentos às matrizes energéticas. Mas ainda devem aguardar a consolidação do programa.
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